O que é se apropriar de uma cultura e qual o limite entre brancos e negros no fluxo cultural da humanidade?
CULTURAL
APROPRIAÇÃO
imagem: vinícius de araujo POR: GIOVANNE RAMOS Um branco pode ou não usar turbantes e dreads? O hip hop e o rap estão ficando brancos? Essas são algumas das perguntas que guiam o debate sobre apropriação cultural.
Um dos pontos entre a polarização que engaja o tópico está a do modo como a cultura negra é usada por brancos ou até mesmo por negros
Artistas como Justin Bieber, Anitta e Claudia Leitte já foram criticados por aparecer com visuais diferentes e elementos que remetem à cultura negra, como tranças, dreads e outras vestimentas.
O rap também discute a questão a partir do debate em torno do embranquecimento do gênero musical, onde artistas brancos conseguem mais destaque que os negros que sempre estiveram na cena.
Não há um consenso do que é de fato apropriar-se de uma outra cultura e a sua ligação com o racismo. Qual a importância desse debate? Existem culpados na apropriação cultural?
Compreender a apropriação vai além de saber quem usa ou não símbolos negros e heranças culturais africanas. Mas sim o contexto, que dá tom para perceber o que é ou não apropriação.
"O empréstimo cultural pode tornar-se apropriação quando reforça relacionamentos historicamente exploradores ou priva os países africanos da oportunidade de se beneficiar de seus materiais culturais.”
- Funmi Arewa Durante a colonização europeia, no processo de formação de colônias na África, a produção cultural local foi um dos principais alvos dos povos colonizadores. Como é o caso dos Bronzes do Benim.
A apropriação cultural e o colonialismo europeu estão intimamente ligados a hierarquias de cultura, raça e poder, que moldou a relação entre colonizador e colonizado.
A dinâmica se mantém até hoje nas relações internacionais entre potências hegemônicas e nas relações raciais entre brancos e negros.
"A definição de apropriação cultural só tem sentido quando há um apagamento dos marcos fundantes de uma cultura que ganha uma dinamicidade nas estruturas sociais.”
- rosane borges O samba, criado a partir das raízes negras brasileiras, foi criminalizado desde o período escravocrata e associado pelas elites brancas brasileiras à bagunça e desordem.
O gênero resistiu dentro de uma lógica racista. Para entrar no mercado cultural, teve de se adequar a novos padrões estéticos, surgindo daí artistas brancos como Ary Barroso.
Teóricos dos estudos raciais defendem que a discussão da apropriação cultural deve se aprofundar nas estruturas desiguais de poder entre brancos e negros, que sustentam o racismo e as desiguldades.