População colombiana sofre há um mês com assassinatos e estupros praticados por policiais
Os conflitos foram desencadeados por uma proposta do governo de alterar impostos durante a pandemia da Covid-19; brasileiro que vive no país conta como a situação é prejudicial, sobretudo, para os negros
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Medios Libres Cali

- Introdução:
Os conflitos foram desencadeados por uma proposta do governo de alterar impostos durante a pandemia da Covid-19; brasileiro que vive no país conta como a situação é prejudicial, sobretudo, para os negros
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Medios Libres Cali
Violência contra afro-colombianos: o que o continente americano precisa saberHá um mês a população colombiana vive conflitos em razão da greve contra as propostas de alteração nos impostos apresentadas pelo governo durante a pandemia. A ONG Temblores, com sede na capital Bogotá, contabilizou 60 assassinatos no período, 43 deles com indícios de autoria de agentes das forças de segurança.
O levantamento, feito em conjunto com o Indepaz (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz), também aponta 22 casos de violência sexual contra mulheres colombianas praticados por policiais e militares.
Dois agentes das forças de segurança foram assassinados durante esse mês de conflitos em diversas regiões do país, principalmente na periferia de Cali, onde se concentra a maior parte da população negra colombiana. Uma das vítimas foi o comerciante do bairro de Poblado, Edwin Villa Escobar, 39 anos. No dia 30 de abril, ele estava na esquina das ruas La Carrera e 40, no bairro de Diamante, na parte oriental da cidade, quando recebeu um tiro na cabeça e morreu na hora. No mesmo dia outros seis manifestantes também foram assassinados.
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Reforma na polícia
A população colombiana pede agora uma reforma na estrutura da polícia. De 28 de abril até 24 de maio, foram 1.388 prisões arbitrárias durante protestos e 955 manifestantes foram agredidos por policiais, 46 dessas agressões feriram os olhos das vítimas. Em Porto Resistência, região oriental de Cali, os manifestantes denunciam que policiais têm entrado nas casas, sem mandado judicial, em busca dos organizadores da greve e lideranças sociais.
Um professor brasileiro que mora em Cali comenta, em entrevista à Alma Preta Jornalismo, que grupos de milicianos paramilitares atacam a população, sobretudo as populações negras e indígenas. “O racismo histórico veio à tona. A sociedade está dividida e ainda é vítima do colonialismo. O governo tenta criar a narrativa de que os protestos são atos de vandalismo”, explica o educador, que não terá sua identidade revelada nesta reportagem para a preservação de sua segurança.
Foto: Medios Libres Cali
Em Cali, o transporte público está parado e há bloqueios da Força Pública em diversas áreas. “As mulheres pobres, principalmente as negras, que trabalham com serviços domésticos nas áreas centrais estão com bastante dificuldade para ir trabalhar, porque os patrões não dispensam elas”, relata o professor.
No dia 21 de maio, a população negra fez diversas marchas na Colômbia para relembrar a data do fim do período de escravidão no país e denunciar a violência imposta pela polícia. No Brasil, imigrantes colombianos que vivem em São Paulo, farão um ato, pela segunda vez, no Minhocão, elevado João Goulart, neste sábado (29), a partir das 14h.
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